domingo, 18 de julho de 2010

ESTRÉIA DO ESPETÁCULO "CASA, CASA, CASA"

Em outubro de 2010 no Teatro do Museu do Trabalho, localizado na Rua dos Andradas, nº 230, em Porto Alegre, RS-Brasil, estréia o Espetáculo de Dança Contemporânea CASA, CASA, CASA da coreógrafa e bailarina Marilice Bastos.O espetáculo tem como tema a cotidianeidade da mulher contemporânea no seu lar. Classificação livre.

ENSAIO ABERTO - ENTRADA FRANCA - DIA 18 DE SETEMBRO DE 2010 NO MEZANINO DA USINA DO GASÔMETRO, AV. PRESIDENTE JOÃO GOULART, 551 - BAIRRO CENTRO - ÀS 10:00 HORAS.

ESPETÁCULO COM ENTRADA FRANCA: 01, 02 e 03 DE OUTUBRO ÀS 21:00 HORAS.

TEMPORADA: 15 a 30 DE OUTUBRO - SEXTAS, SÁBADOS E DOMINGOS ÀS 21:00 HORAS.

APOIO:
FINANCIAMENTO:






SINOPSE:

Baseado em pesquisas realizadas pela coreógrafa sobretudo nas áreas de sociologia, antropologia, filosofia, espiritualismo e psicologia (ênfase nas emoções), bem como em pesquisa de campo e em sua autobiografia, CASA, CASA, CASA, reflete aspectos importantes da mulher da nossa sociedade atual no dia-a-dia em sua casa. Estes aspectos na maioria das vezes são inconscientes e obscurecem e diminuem a possibilidade de uma percepção ampliada da consciência em relação ao próprio corpo (tempo/espaço), ao meio ambiente que cerca, bem como em relação ao contato com o UNIVERSO de forma holística.

Principais aspectos desenvolvidos:

  • Sincretismo "cultural"
  • Consumismo
  • Estímulos externos advindos da mídia em geral
  • Corpo humano dissociado (Paradigma da dualidade)
  • Corpo humano sem identidade
  • Afeto e apego como forma de bloqueio de emoções e compensações de desejos
  • Padrões estéticos feministas da sociedade
  • Responsabilidades da mulher contemporânea
Clique e veja o vídeo

FRAGMENTOS DO ESPETÁCULO

 No dia-a-dia, fora de casa, ando sempre dentro da "norma"... Quando eu era pequena  na minha casa, minha família  criou-me com muitas regras e "fantasias" e junto a isto, talvez inconscientemente, me transmitiram medos  e receios desnecessários.
Eu gostava de chupar o cabelo e diziam dando um tapa na minha mão: Tira isto da boca,vai criar um bicho na sua barriga...

Uma vez na janela do meu quarto disseram para eu e meu irmão: Se um dia vocês morrerem, eu morro junto... Isto até hoje me deixou  preocupadíssima com a vigilância da minha saúde ...


Comentavam nos momentos das refeições em família: O talher quando cai é um aviso que vai chegar visita...

 Antes das provas escolares, diziam-me: Se vieres para casa com uma nota baixa não ganharás o salgadinho que gostas de comer...

Uma vez na sala de minha casa eu disse que queria ir brincar numa coleguinha da escola e disseram-me: Só irá se deres tua galinha de estimação antes de sair... Eu amava aquela galinha, ganhei quando ela ainda era um pintinho. Eu chorei muito e como era criança escolhi ir à casa da minha colega, conforme já havíamos combinado... Ali foi minha primeira sensação de perda, talvez a mais profunda que senti até hoje por ainda não possuir total capacidade de  discernimento. Naquele momento senti raiva, culpa e ausência  de amor  por parte da família por mim...

Falaram-me no jardim de casa: Esta bicicleta é para teu primo que é pequeno (oito anos), você já é grande e muito pesada para andar... Nesta ocasião, eu tinha onze anos de idade e era muito magrinha, isto me causou um grande mal-estar, pois compreendi a mentira e aceitei o fato como rejeição, ativando-me  um padrão de raiva sem medida...

Quando eu era adolescente e não gostava dos afazeres domésticos diziam em casa: Se não souberes arrumar a casa, não vais casar...

De certa forma tudo isto  ajudou-me a ter disciplina diante da vida e a ser uma pessoa batalhadora por meus ideais, mas também, ajudou-me a desde muito cedo apresentar sintomas de depressão e transtorno obsessivo.

Muito sofri e sofro ainda  para romper com os paradigmas internalizados em mim e suas consequências, mas hoje só venho a agradecer, cresci infinitamente com tudo isto... Não culpo a ninguém, pois compreendi que em nossa sociedade as pessoas na maioria das  vezes agem somente por reprodução automática da mesma forma que uma televisão é programada para desligar automaticamente, e no mais íntimo, todas as pessoas desejam  carinho e  amor...

Ah! Se minha família e todas as outras soubessem da "verdade", tudo seria diferente e o carinho e o amor reinaria de forma fraterna a uma só sociedade, pois universalmente todos compartilhariam semelhantemente propósitos, gostos, preocupações e costumes, e  interagiriam entre si constituindo uma só comunidade.  De tudo isto só tenho a dizer que aprendi que o caminho de busca não tem fim...

Minha casa... Local de entrega e refúgio, proteção e liberdade do meu ego para assim eu continuar minha vida de forma equilibrada e "normal"... Marilice Bastos
Fotografias: Bruno Gomes
Quando tenho "tempo"na minha casa, tão em voga  nos dias de hoje, dedico  parte dele a indagações... Faz "horas" que minhas conclusões se repetem:

TUDO É A MENTE HUMANA QUEM CRIA E CONCRETIZA:  CASA, TELEVISÃO, COPO, BOLSA, MESA, GUARDANAPO, VESTIMENTAS E ALIMENTOS DOS TIPOS MAIS ESTRANHOS QUE JÁ VI...

HOMENS  E MULHERES COM SEUS SIGNOS E SIGNIFICADOS, PRECISAM COM O MÁXIMO DE PRESSA BANHAR-SE EM FONTES MAIS SEGURAS QUE OS FAÇAM ACIMA DE TUDO SEREM RICOS DE ESPÍRITO. 

Quem sou? De onde vim e para onde vou? Para que existo? Minha CASA, meu LAR... Local de questionamento incessante.
Marilice Bastos.                                              










                                            Fotografia: Cláudio Etges



Fotografia: Bruno Gomes
Fotografia: Bruno Gomes


Fotografia: Cláudio Etges 
Às vezes sinto medo e solidão, mesmo estando em meio a muita gente ou aqui na minha casa...

Nestes momentos, percebo que as pessoas me "vêem" com estranhamento, me acham diferente, talvez, suponho, pensam que não vivo a realidade... Fico mais quieta...

Perguntam-me: Estás bem? Condicionadamente eu respondo que sim, mas engano a mim mesma neste simples ato de agradar       o outro e vejo o outro se enganar ao "dizer" acreditar em mim. Que consequências isto acarreta? É o que medito no meu silêncio... 

Somos uma teia, um problema que é meu, é do outro também e assim vice-versa. Sinto a falta da atenção, do interesse, de partilha, compreensão, paciência, cumplicidade e  AMOR entre as pessoas, em especial, lamento a superficialidade das relações humanas...

Em termos matemáticos... Sou um "produto" do meio... Em termos humanos, alguém que se preocupa com o social e sente falta da "verdade".

Marilice Bastos.


Fotografia: Cláudio Etges
Fotografia: Bruno Gomes

Eu sei que amei
Até duas vezes ao mesmo tempo amei...
E na mesma proporção, o meu amor foi transbordante...
De repente sumiu
Tudo se foi
Fiquei eu e o meu desejo...
Sozinha me encontrei na vastidão
Mas o Universo é criativo e iluminado me deu forças para crescer e seguir em frente
Hoje o meu amor se expandiu igualmente a todas as formas de manifestações.


Marilice Bastos









Fotografias: Cláudio Etges

terça-feira, 6 de julho de 2010

Concepção do espetáculo

Fotografias: Bruno Gomes


 
Espetáculo de dança que dialoga com a contemporaneidade através da formação artística da bailarina-criadora. Ressalta a exploração da força e do risco físico em direção de uma composição em que os princípios de oposição, busca da intensidade e velocidade proporcionam a plástica da obra coreográfica.

A concepção baseia-se nas possibilidades expressivas e pelo seu carácter cênico, o que pressupõe alterações de significação dos propósitos artísticos através do tempo, da qualidade do movimento, da energia e sua articulação com sentido e recepção. Casa, Casa, Casa é referente às múltiplas idéias contidas nesta palavra; casa-residência, casa-casamento, casa de bonecas, casa-combinação.

Enquadra-se na contemporaneidade, percorrendo manifestações da dança cênica que fazem-se presentes na formação da bailarina criadora, como o balé clássico e a dança Moderna de Martha Graham, bem como explora abordagens corporais que contextualizam atualmente estes próprios conceitos de dança citados e apontam para a elaboração de uma dança que desenvolve de forma sistêmica e eclética questões do cotidiano. Como exemplo, temos a utilização de dinâmicas de força, explosão e velocidade advindas de técnicas de artes marciais orientais e a utilização adaptada para a dança de movimentos acrobáticos da capoeira.

O título sugere um espaço doméstico e, ao mesmo tempo local de reclusão e segurança. Trabalha com motivações e técnicas que mexam profundamente com a artista numa vertiginosa criação, onde o esforço e o risco produzam a expressividade exigida para o espetáculo.

O espetáculo busca explorar, leveza e força, múltiplas dinâmicas e acentuação das cores através do diálogo entre os diversos elementos plásticos da obra. Contudo, a marca essencial do espetáculo é a relação do movimento e gestos num passseio pelo espaço da criação.

Fotografias: Cláudio Etges